A banda que era "ocultista demais" para os EUA — e viu o Black Sabbath ganhar os holofotes

Da Redação - Ruído Urbano News
Enquanto o Black Sabbath ainda era confundido com satanismo por causa de seu som pesado e atmosfera sombria, existia outra banda britânica que levava essa estética a um outro nível — e isso acabou custando caro.
No fim dos anos 60 e início dos 70, o público americano ainda digeria o impacto dos crimes cometidos por Charles Manson. Foi nesse cenário que o Black Widow, grupo inglês que realmente flertava com temas ocultistas nos palcos e nas letras, acabou barrado de fazer uma turnê nos Estados Unidos, abrindo espaço para o então emergente Black Sabbath.
O Sabbath, que lançou seu primeiro disco em uma sexta-feira 13 de 1970, rapidamente foi associado ao ocultismo — mesmo sem ter nenhuma ligação concreta com práticas místicas. Já o Black Widow, vindo de Leicester, tinha uma abordagem bem mais direta, com encenações e símbolos esotéricos em seus shows.
Formado originalmente em 1966 com o nome de Pesky Gee!, o grupo passou por várias formações até assumir o nome Black Widow e lançar o disco Sacrifice em 1970, considerado um clássico do chamado "occult rock". A formação clássica contava com Kay Garret (vocais), Kip Trevor (vocais e guitarra), Chris Dredge (guitarra), Bob Bond (baixo), Clive Box (bateria e piano), Gerry "Zoot" Taylor (órgão) e Clive Jones (instrumentos de sopro e teclados).
Foi Jones quem explicou, anos depois, por que a turnê nos EUA não rolou. Em 2011, ele relembrou em entrevista à It's Psychedelic Baby Magazine (via Far Out Magazine):
"Nunca conseguimos chegar aos EUA porque fomos banidos depois que Charles Manson fez seus assassinatos com magia negra. Acharam que nos mandar para lá logo em seguida disso não seria uma coisa boa. Então, nossos empresários mandaram apenas o Black Sabbath, com quem tinham acabado de assinar e que então negavam qualquer relação com magia negra."
Os assassinatos cometidos por Manson em 1969, que incluíram a morte da atriz Sharon Tate, chocaram o mundo e deixaram o público extremamente sensível a qualquer menção a ocultismo. Até mesmo o White Album dos Beatles foi apontado como inspiração para os crimes. Nesse clima tenso, o Sabbath embarcou sozinho para sua primeira turnê americana em outubro de 1970, já promovendo o disco Paranoid. A turnê originalmente estava prevista para o primeiro semestre daquele ano, ainda com o álbum de estreia em evidência.
A trajetória do Black Widow
Depois de Sacrifice, o Black Widow lançou um segundo álbum autointitulado em 1971, agora mais distante do tom esotérico do disco anterior. O terceiro veio em 1972, mas o grupo acabou dispensado pela gravadora no ano seguinte. Um quarto álbum foi gravado, mas só viu a luz do dia em 1997, com o nome Black Widow IV.
A banda ainda teve um breve retorno em 2007, quando Clive Jones e o baixista Geoff Griffith reformaram o projeto. Em 2011, lançaram Sleeping with Demons, que contou com a participação de Tony Martin (ex-Black Sabbath) na faixa "Hail Satan". O fim definitivo veio em 2014 com a morte de Jones. Griffith faleceu dois anos depois.