Andreas Kisser relembra como as mulheres marcaram sua trajetória no metal e na vida

01/04/2025

Da Redação - Ruído Urbano News

Em entrevista ao site TMDQA!, o guitarrista Andreas Kisser falou sobre um tema pouco comum quando o assunto é heavy metal: a influência das mulheres em sua jornada, tanto pessoal quanto profissional.

A conversa aconteceu como parte de uma reflexão sobre o mês das mulheres e trouxe à tona personagens importantes na trajetória do músico — da família ao palco, passando por amizades e parcerias de vida.

Mulheres no começo de tudo

A história começa com um violão que atravessou o oceano. Foi sua avó, uma refugiada eslovena do pós-guerra, quem trouxe o instrumento para Santo André, São Paulo, nos anos 1940. Sem saber, ela carregava nas mãos o começo de uma grande história.

"Minha avó veio depois da Segunda Guerra Mundial, em 1949, da Europa para Santo André começar uma vida nova, e trouxe esse violão – o mesmo que comecei a tocar e que guardo com muito carinho. Desde pequeno, eu já a via tocar músicas do folclore esloveno, alemão e austríaco, com três ou quatro acordes", contou Kisser.

A lista de influências femininas seguiu com a mãe, Anna Maria, que cresceu ouvindo discos variados — de Clara Nunes a Beatles — e, claro, com Denise, a primeira professora de violão de Andreas, que abriu as portas para que ele começasse a desbravar o mundo da música.

"Denise (a primeira professora de violão) foi uma grande mulher na minha vida. Os irmãos dela tinham uma banda de rock, e eu estudava no quarto onde eles ensaiavam, cheio de amplificadores. Foi ali que aprendi os primeiros acordes da música popular brasileira e comecei a dar meus primeiros passos na música".

Patrícia, o alicerce nos bastidores

Andreas também falou sobre a importância de Patrícia Kisser, sua esposa por três décadas, que desempenhou um papel essencial na organização e estabilidade da sua vida pessoal e profissional.

"Eu era muito idealista e pouco realista", contou ele. "Patrícia me ensinou a importância de pensar no longo prazo."

Quando se conheceram, no auge do sucesso do Sepultura, Patrícia entrou no universo do Heavy Metal e assumiu a gestão da carreira de Andreas, conciliando as tarefas de mãe e empresária. Mesmo sem seguir na carreira de medicina, encontrou um propósito ao lado do músico e de outros artistas.

"Pensar em aposentadoria, organizar a parte financeira, valorizar o nome, eu era sempre alheio a isso. Realmente Patrícia me deu muita segurança ao se preocupar com coisas que eu não me preocupava. Eu só queria tocar guitarra. Hoje, eu posso dizer que a minha percepção das coisas mudou muito através do que ela me mostrou."

Após perder Patrícia para o câncer, Kisser transformou a dor em ação, criando o Movimento Mãetricia, para defender o direito à morte digna no Brasil. Desde então, também organiza o Patfest, um evento beneficente que arrecada fundos para cuidados paliativos.

A vida em família e na estrada

Conciliar vida familiar e carreira não foi tarefa simples para Andreas, que passou boa parte do tempo em turnês pelo mundo. Ainda assim, ele procurou construir laços fortes com seus filhos, Yohan e Giulia, e com a esposa, respeitando as individualidades de cada um.

"A presença física não necessariamente indica que as pessoas estão perto ou que realmente se conhecem. É importante não cair nessas armadilhas, de achar que a gente é 'uma coisa errada' por ser como é", comentou.

Ele acredita que amor e respeito são as bases reais de uma família, e que cada um precisa encontrar sua forma de viver essas relações. Não por acaso, seus filhos também trilharam caminhos criativos: Yohan, por exemplo, lançou seu primeiro disco recentemente e dedicou uma música à mãe.

Vânia, a matriarca do Sepultura

Outro nome feminino fundamental na história de Kisser e do Sepultura foi Vânia Cavalera, mãe de Max e Iggor, fundadores da banda. Ela acolheu Andreas quando ele chegou a Belo Horizonte, nos primeiros anos do grupo, e foi peça-chave no sucesso inicial da banda.

"Obviamente, a Vânia foi quem deu todo aquele suporte inicial para que o resto pudesse acontecer", afirmou.

Além dela, outras mulheres também tiveram papel relevante nos bastidores do Sepultura, como Glória e Mônica Cavalera, empresárias que comandaram a gestão da banda e enfrentaram resistência num ambiente majoritariamente masculino.

"Nunca tive problema com isso. O Sepultura nunca teve medo disso. Cito as grandes empresárias Sharon Osbourne, do Ozzy, Wendy Dio, do Ronnie James Dio, a Glória Cavalera, que trabalhou com a gente, a Mônica também. Mulheres são fundamentais e o metal nunca teve medo disso".

Presença feminina no palco e nos bastidores

Andreas também destacou a presença crescente de mulheres na equipe atual do Sepultura — de produção a assessoria de imprensa — e vê com bons olhos essa diversidade.

"As mulheres estão cada vez mais presentes, né? E isso é ótimo! Na nossa equipe, por exemplo, temos a stage manager, a gerente de produção, a contadora, a assessora de imprensa, a coordenadora de merchandising… Todas mulheres sensacionais, cada uma com seu jeito, mas sempre com planejamento e foco."

No disco Quadra, inclusive, o Sepultura convidou uma mulher para os vocais de uma faixa pela primeira vez: Emmily Barreto, na música "Fear, Pain, Chaos, Suffering".

Mulheres como força vital

Kisser encerrou a entrevista refletindo sobre o impacto das mulheres em sua vida e na sociedade como um todo:

"Não teria nem vida se não fosse pela mulher! Não é nem carreira, é tudo! É vida!"

Entre as mulheres que admira, ele citou Fernanda Torres, Ida Presti e Chiquinha Gonzaga, além de reconhecer aquelas que fazem parte do dia a dia, como sua nutricionista e oftalmologista. Para ele, a troca entre homens e mulheres é essencial e deve ser sempre valorizada.

"Acho que estamos juntos e temos que nos apoiar uns aos outros, independente do gênero", concluiu.