Cacá Diegues, um dos pilares do Cinema Novo, morre aos 84 anos e deixa filme inédito

14/02/2025

Da Redação - Ruído Urbano News

O cinema brasileiro perdeu um de seus grandes mestres. Cacá Diegues, diretor, produtor e escritor, faleceu nesta sexta-feira (14) aos 84 anos, após complicações em uma cirurgia. Nome essencial da sétima arte no país, ele foi um dos fundadores do movimento Cinema Novo e esteve por trás de filmes icônicos como Bye Bye Brasil e Xica da Silva. Mesmo em sua fase final de vida, trabalhava ativamente na conclusão de seu último projeto, Deus Ainda é Brasileiro.

Uma trajetória marcada pela resistência e pela identidade nacional

Nascido em Maceió, Alagoas, Cacá Diegues cresceu no Rio de Janeiro e, ainda na faculdade, já respirava cinema. Foi no ambiente acadêmico que se envolveu com o cineclubismo e ajudou a pavimentar o caminho para o Cinema Novo, um dos movimentos mais marcantes da história cultural do Brasil. Inspirado pelo neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa, o grupo liderado por Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Leon Hirszman apostou em um cinema popular, engajado e essencialmente brasileiro.

Ao longo de sua carreira, Cacá dirigiu e produziu filmes que abordavam temas sociais, políticos e culturais do país. Seu olhar aguçado para o Brasil rendeu sete indicações do país ao Oscar, com títulos como Xica da Silva (1977), Bye Bye Brasil (1980) e O Grande Circo Místico (2019). Seu trabalho seguiu relevante mesmo com as transformações do audiovisual, sendo um dos poucos cineastas veteranos ainda em atividade até recentemente.

O último projeto: "Deus Ainda é Brasileiro"

Mesmo após décadas de carreira, Cacá não desacelerou. Seu último filme, Deus Ainda é Brasileiro, era uma continuação do sucesso Deus é Brasileiro (2003) e estava em produção desde 2022. Segundo o próprio diretor, a obra buscava refletir sobre o momento político e social do país nos últimos anos, com um olhar crítico e ao mesmo tempo esperançoso sobre o "caráter brasileiro".

"Esse filme aborda um outro momento da nossa história, em que Deus retorna ao Brasil para tentar recuperar a esperança na humanidade. Eu costumo dizer que é uma comédia cívica, por causa do seu tom patriótico", explicou em entrevista.

Vida pessoal e legado

Além de sua contribuição ao cinema, Cacá teve uma vida dedicada à cultura. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 2018, também recebeu honrarias internacionais, como o título de Oficial da Ordem das Artes e das Letras da França.

Foi casado com a cantora Nara Leão entre 1967 e 1977, com quem teve dois filhos. Em 1981, casou-se com a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães. Em 2019, sofreu a perda de sua filha Flora, vítima de um câncer no cérebro.

Cacá Diegues deixa um legado incomparável para o cinema brasileiro e três netos que carregam seu nome e história. Sua obra segue viva, eternizada em filmes que narram o Brasil com uma sensibilidade única.