Com riffs furiosos e rimas pesadas, Peter Só revigora o rap rock com clipe de "Show da vida Fake"

01/04/2025

Por Devana Babu (@devana.babu)

Faixa integra o primeiro e explosivo álbum do cantor paulista; audiovisual foi gravado na ocupação IBORU, projeto multiartístico de Marcelo D2; estreia será no dia 1 de abril 

Após o lançamento de seu primeiro álbum, Sonhos de Plástico, Peter Só disponibiliza o clipe da faixa "Show da Vida Fake", canção onde o cantor disserta sobre a apatia diante dos ataques a corpos marginalizados. A estreia acontece no Youtube no dia 1 de abril, reforçando a temática da provocação. "Durante algum momento até cheguei a me iludir, pensando que fazer stories é resistir// (...) O show da vida fake no meu Iphone parcelado", diz a letra. (Assista aqui)

O videoclipe foi gravado na ocupação cultural IBORU, projeto que faz parte do multiverso IBORU, fundado pelo rapper e produtor Marcelo D2, no Rio de Janeiro. O local reúne samba, rock, rap, cinema, artes plásticas, moda, ancestralidade e fé e assim como a música de Peter Só, serve como foco de resistência cultural. O diretor Antônio Lacet, acostumado com produções dos estúdios Globo, comandou a equipe de mais de 20 pessoas e também escreveu o roteiro.

No clipe, que inicia focado no cantor em uma sala escura enquanto disserta sobre saúde mental e toxicidade da vida moderna, a claustrofobia dos versos é potencializada pelo sufoco do personagem em tela, representado pelo próprio Peter Só. "Escolhi essa faixa para gravar o clipe porque representa todo o resto do álbum e a mensagem que quero passar. Entre todas contidas no 'Sonhos de Plástico', acredito que 'Show da Vida Fake' reúne a nata das ideias que concebi para o álbum", conta.

"A principal inspiração visual e narrativa para o clipe foi a construção do estranho. Usamos muitos contrastes de referências, sobretudo o macabro, do sinistro. Buscamos o escuro e refletir onde colocamos nossa sombra e como seria importante ela na contação da história. Mas a gente quis captar a beleza dessas trevas. Precisávamos tentar traduzir em imagens o que seria esse "Show da Vida Fake". Foi interessante pensar sobre esses fantasmas que deixaram de ser pessoas e viraram robôs que fazem parte do algoritmo. Essas iconografias estão lá. O Peter no clipe mostra a dualidade de tentar sair desse mundinho", explica Lacet.

A fotografia azulada remete aos primeiros filmes da franquia "Jogos Mortais", onde as pessoas lutam por sobrevivência enquanto são torturadas com poucas chances de reparar os erros que as levaram até ali, tal como todos nós numa sociedade que fomenta competições desiguais num capitalismo selvagem. Não à toa, as imagens na produção evocam filmes de terror também do gênero zumbi, estilo consagrado por usar as criaturas para traçar críticas ao consumo desenfreado e à ambição humana.

"Uma vida inteira de costumes tóxicos/ Haja cura pra lidar com tanta culpa e remorso"

É a primeira vez que Peter Só grava um clipe com esse escopo de produção. O cantor conta que durante um dia inteiro, mais de dez pessoas estiveram envolvidas no processo para que o audiovisual recebesse o nível de qualidade idealizado pelo artista. "Foi bem satisfatório ver tanta gente empenhada neste projeto. Foi uma super correria que valeu a pena porque o resultado final representou exatamente o que eu queria: fortalecer a mensagem da música", conta o compositor.

"Esperamos que o público sinta a angústia de estar no show da vida fake, sendo parte deste sistema. Fizemos para ser diferente! Trabalhar com o Peter foi espetacular. Ele me deu liberdade criativa quase total e sempre foi educado ao dar ideias que agregaram muito ao clipe, ainda mais na cena inicial. E ele performou muito bem também, atuando em bom nível, não decepcionou!", conclui Antônio Lacet.

Com a chegada do novo videoclipe, Peter Só coloca mais uma peça em sua trajetória artística contestadora. O momento de disputa de narrativa cultural e política não vai premiar neutralidade e ele abre mão de metáforas para atingir o coração do ouvinte com discurso direto em "Show da Vida Fake".