Dercy Gonçalves redefiniu o que é palavrão em papo com João Gordo

25/03/2025

Da Redação - Ruído Urbano News

Dercy Gonçalves, um dos nomes mais emblemáticos da história do entretenimento brasileiro, fez da ousadia sua marca registrada. Com uma carreira centenária que atravessou o teatro de revista, o rádio, o cinema e a televisão, ela sempre foi lembrada pelo jeito escrachado e espontâneo de ser — e, claro, pelo uso constante de palavrões. Ou, como ela mesma fez questão de explicar, supostos palavrões.

Em uma entrevista marcante ao programa Gordo Visita, comandado por João Gordo, a comediante protagonizou um dos momentos mais sinceros (e divertidos) da televisão. Logo no início da conversa, João Gordo, conhecido também por não medir palavras, rasgou elogios à convidada:

"Eu estou aqui com uma lenda viva da dramaturgia e da televisão brasileira. Eu gosto desse jeito da senhora espontâneo, de falar palavrão. Eu falo muito, sabia?"

Mas Dercy não deixou barato. Com a franqueza que a consagrou, ela rebateu com um discurso que virou quase uma lição de vida — ou ao menos uma reflexão pouco convencional sobre o que realmente deveria nos ofender.

"Não é palavrão. Nunca falei palavrão. Eu acho que palavrão não é isso o que falo. O que é para você? Cu? Porra? Você é feito da porra. Quando Deus resolveu fazer a humanidade, ele tirou do sexo masculino uma droga ordinária e fedorenta, nojenta, e jogou dentro da mulher, e saiu isso. Saiu até a internet e o celular. É uma coisa muito estranha e que impressiona. O palavrão para mim não é esse que vocês criaram. Não senhor! O palavrão é a fome! É o condomínio. Você pagar a casa que é da gente. Palavrão é o tóxico, que devia ser proibido. Nem devia entrar no país", declarou, sem pestanejar.

A fala, carregada de sarcasmo e crítica social, foi além da anedota. Dercy usou sua típica linguagem sem freio para apontar o dedo para problemas reais — a desigualdade, o custo de vida, a dependência química — e fazer todo mundo repensar o que de fato merece ser chamado de "indecente".

Mais do que uma piada ou um momento engraçado de TV, a resposta de Dercy revelou sua visão crítica e nada ingênua do mundo. E mostrou, mais uma vez, que seu jeito irreverente nunca foi só rebeldia — era também consciência, coragem e um senso de liberdade que poucas pessoas ousam exercer.

Com sua fala, Dercy não apenas quebrou tabus — ela esfregou na cara da sociedade que talvez o maior palavrão não esteja nas palavras que evitamos dizer, mas nas realidades que fingimos não ver.

E como toda grande artista, Dercy se foi, mas continua presente nas lembranças, nas entrevistas e, principalmente, nos questionamentos que nos obriga a fazer. Afinal, quem diria que entre um "porra" e outro, ela nos ensinaria tanto sobre o mundo?