O músico lendário que o Black Sabbath cogitou chamar, mas Ozzy Osbourne não curtiu a ideia

Nos anos 1970, o Black Sabbath já havia conquistado seu espaço como uma das bandas mais pesadas e influentes do planeta. No entanto, a busca por inovação e novas camadas sonoras levou o grupo a explorar instrumentos que iam além das guitarras pesadas de Tony Iommi e da cozinha sólida de Geezer Butler e Bill Ward. E foi nesse cenário de experimentação que surgiu uma ideia ousada: incorporar Rick Wakeman, do Yes, como um membro oficial da banda.
O encontro entre Wakeman e o Sabbath
A ligação entre Wakeman e o Sabbath não veio do nada. Em 1973, durante as gravações do clássico álbum Sabbath Bloody Sabbath, o tecladista britânico foi convidado para participar da faixa Sabbra Cadabra. Sua contribuição adicionou uma textura nova à música, com camadas de órgão e piano elétrico que enriqueceram o peso sombrio característico do Sabbath. A colaboração foi tão bem recebida dentro do estúdio que a banda começou a flertar com a possibilidade de chamá-lo para algo maior: integrar o time oficialmente.
Essa ideia parecia, em teoria, uma jogada interessante. Wakeman já era reconhecido como um dos tecladistas mais talentosos da época, principalmente por seu trabalho com o Yes, banda que ajudou a elevar o rock progressivo a níveis sinfônicos e épicos. Sua habilidade técnica e criatividade certamente trariam novas possibilidades para o som do Sabbath. Mas havia um problema — e seu nome era Ozzy Osbourne.
Ozzy e a resistência ao progressivo
Apesar de ser conhecido por sua postura descontraída (e por vezes caótica), Ozzy tinha uma preocupação legítima com o direcionamento musical da banda. O Sabbath já enfrentava críticas de fãs puristas por introduzir pianos e sintetizadores em músicas como Changes. Para uma banda que havia se tornado sinônimo de peso e obscuridade, flertar com o universo progressivo poderia ser visto como uma traição à sua identidade.
O próprio Rick Wakeman relembrou esse momento em uma entrevista à Classic Rock:
"Tony Iommi, que é um grande amigo, me contou que a banda realmente considerou me chamar para entrar no Black Sabbath, porque nos dávamos muito bem e eles queriam expandir o som. Mas Ozzy ficou preocupado, provavelmente com razão, sobre como os fãs de metal reagiriam."
Ozzy, sempre antenado ao que o público pensava da banda, temia que trazer um tecladista tão associado ao rock progressivo pudesse confundir os fãs — ou até aliená-los. Afinal, o Sabbath não queria correr o risco de ser visto como uma banda de rock experimental ou sinfônico, perdendo o vínculo visceral com suas raízes pesadas.
Wakeman seguiu seu caminho — mas o teclado ficou
Com a ideia descartada, Rick Wakeman voltou para suas atividades no Yes e seus próprios projetos solo, enquanto o Sabbath encontrou maneiras mais discretas de continuar utilizando teclados. Tony Iommi, sempre aberto a novas sonoridades, acabou incorporando elementos de teclado em várias músicas da banda, seja tocando ele mesmo ou convidando músicos de estúdio para participações pontuais.
O curioso é que, mesmo sem Rick, o sobrenome Wakeman acabou deixando sua marca na história da banda. Décadas depois, Adam Wakeman, filho de Rick, tocou teclado em diversas turnês do Black Sabbath, especialmente nos anos 2000, quando a banda revisitou suas formações clássicas para turnês comemorativas. Essa participação de Adam foi quase uma espécie de reconciliação histórica, como se o destino tivesse encontrado uma forma de unir as duas famílias musicais.
Black Sabbath e a eterna tensão entre peso e experimentação
Esse episódio ilustra uma tensão criativa que acompanhou o Black Sabbath ao longo de toda sua carreira: o desejo de expandir fronteiras sonoras versus a necessidade de manter sua identidade junto ao público fiel. Em diversos momentos, a banda flertou com sons diferentes, desde elementos de jazz e blues até texturas eletrônicas e experimentais. Mas, sempre que isso acontecia, havia o cuidado para não se afastar demais da essência obscura e pesada que definiu sua imagem.
Mesmo sem Wakeman como membro fixo, o Black Sabbath nunca deixou de experimentar. A própria faixa Sabbra Cadabra, com sua mistura de peso e texturas de teclado, se tornou um exemplo de como a banda poderia inovar sem perder sua essência. O episódio também mostra como os anos 70 foram uma época de efervescência criativa, onde o diálogo entre diferentes estilos — do metal ao progressivo — estava em ebulição constante.
E se Wakeman tivesse entrado?
Fica a pergunta: como seria a sonoridade do Black Sabbath com Rick Wakeman como membro fixo? Talvez a banda tivesse trilhado um caminho ainda mais experimental, aproximando-se de grupos como King Crimson ou Pink Floyd. Ou talvez essa mistura ousada nunca tivesse funcionado de fato, enterrando o Sabbath sob camadas de teclados e arranjos pomposos demais para o gosto do público heavy metal.
No fim das contas, Wakeman seguiu sendo um pilar do rock progressivo, enquanto o Black Sabbath manteve seu reinado como criador do heavy metal. E essa história curiosa, cheia de "e se", é apenas mais uma prova de como a música dos anos 70 foi marcada por possibilidades infinitas e colaborações inesperadas.