Osmar Prado celebra trajetória nos palcos e relembra início da carreira

Da Redação - Ruído Urbano News
Com mais de seis décadas dedicadas à atuação, Osmar Prado mostra que talento e paixão não têm prazo de validade. Aos 77 anos, ele segue em cena com fôlego total, viajando o Brasil com a peça O Veneno do Teatro, que já foi vista por mais de 60 mil pessoas desde o início de 2023. A nova temporada chegou ao Teatro Municipal Carlos Gomes, no coração do Rio de Janeiro.
Mas antes dos aplausos e da consagração, a história de Osmar começou de forma simples e curiosa. Ainda menino, em uma cozinha com fogão a lenha, ele fez à mãe a pergunta que mudaria tudo: "Mamãe, como se faz para ser artista?" A resposta, no entanto, foi um choque de realidade. Segundo ela, era preciso ser bonito e alto — características que não batiam com a imagem que ela tinha do filho, baseada nos galãs clássicos como Rodolfo Valentino. "Então, ela me matou no nascedouro", conta o ator, rindo da lembrança.
Felizmente, o sonho não morreu ali. Sua tia Trindade, operária e grande incentivadora, foi peça-chave. Ela o levou até um teste para televisão, com o diretor Líbero Miguel. Era a chance de participar da primeira adaptação de David Copperfield para a TV. Mesmo sem experiência, Osmar improvisou uma cena e conquistou o papel. "Você vai trabalhar comigo", decretou o diretor após vê-lo em ação.
Desde então, Osmar não parou. Aos 12 anos, protagonizou Oliver Twist. Não fez cursos formais, não passou por faculdade de teatro — aprendeu com a vida e com os gigantes que cruzaram seu caminho. "Todo o meu aprendizado foi na prática e nos contatos de pessoas maravilhosas do meio", diz, citando mestres como Sérgio Cardoso, Othon Bastos e Gianfrancesco Guarnieri.
Criado em uma casa modesta na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, Osmar relembra o começo com clareza: "Nasci em um casebre, com banheiro do lado de fora. Meu pai e meu avô construíram uma cozinha de madeira com fogão a lenha. Hoje, tem um prédio enorme onde era a minha casa."
Apesar das dificuldades, ele acredita que o caminho estava traçado: "Fui sendo levado. Parece que era o destino inexoravelmente marcado ser o que sou. (...) Os deuses do teatro sorriram para mim."
O retorno aos palcos com O Veneno do Teatro aconteceu depois de uma pausa de 10 anos longe do teatro. Nesse intervalo, brilhou como o Velho do Rio na novela Pantanal, papel que lhe rendeu o Prêmio APCA. Mas ele sabia que só voltaria ao palco quando sentisse que era a hora certa. "Não volto para o teatro sem que eu acredite na proposta", afirma.
Segundo o diretor Eduardo Figueiredo, Osmar foi uma escolha natural para o papel: "Ele é uma potência. Mesmo com a idade, tem uma força física impressionante. Nunca esqueceu uma fala sequer, nem nos ensaios."
Maurício Machado, que divide a cena com ele, também é só elogios: "Osmar é o maior ator vivo do Brasil. É um gênio e, ao mesmo tempo, um parceiro generoso. Os personagens nos escolheram, e isso criou uma relação de confiança e respeito."
Mais do que uma peça, O Veneno do Teatro é também um espelho das inquietações do mundo contemporâneo. O espetáculo propõe uma reflexão sobre o poder, os limites da civilização e o papel do ser humano diante das atrocidades.
A peça, além do desempenho de seus intérpretes, propõe uma reflexão sobre poder e civilidade. "A gente está o tempo inteiro discutindo a postura do ser humano, até onde vai a capacidade de cometer atrocidades", explica o diretor.
Sempre atento ao cenário global, Osmar também faz questão de se posicionar: "Temos que acabar com os impérios, abaixo os imperadores. Que venha a democracia plena."