Sing Sing e o poder transformador da arte por trás das grades

Da Redação - Ruído Urbano News
Se tem uma coisa que o cinema nos mostra sempre, é que histórias sobre presidiários geralmente seguem um roteiro meio batido: tensão, violência, fugas mirabolantes e aquele drama pesado. Mas Sing Sing vem na contramão desse clichê e aposta em um caminho diferente—e muito mais emocionante. O filme, indicado a três categorias no Oscar 2025, incluindo Melhor Ator para Colman Domingo, joga os holofotes sobre um programa de teatro dentro de uma prisão de segurança máxima nos EUA. E o resultado é daqueles que fazem a gente sair da sessão com um nó na garganta e com olhos marejados.
A trama gira em torno de John "Divine G" Whitfield (vivido por Colman Domingo), um detento que jura inocência e aguarda uma chance de liberdade condicional. Enquanto isso, ele mergulha de cabeça no programa de teatro da prisão, onde atua e ajuda a criar espetáculos autorais. Quando Clarence (Clarence Maclin), um novato na cadeia, entra para o grupo meio desacreditado, Divine e seus parceiros mostram que a arte pode ser um refúgio poderoso. Aos poucos, Clarence se encontra no palco, e junto com seus colegas, descobre que talvez a vida possa ser maior do que as grades que os cercam.
Mais emoção, menos clichê
O grande trunfo de Sing Sing é justamente fugir do óbvio. O filme não foca na brutalidade da prisão, mas sim no impacto positivo da arte na vida desses homens. Isso não significa que ele ignore a dureza do ambiente, mas opta por mostrar um caminho de resgate pessoal e coletivo, em vez de apenas reforçar o ciclo de violência.
O roteiro, assinado pelo diretor Greg Kwedar e por Clint Bentley (com colaborações dos próprios ex-detentos que inspiraram a história), acerta ao construir personagens reais e palpáveis, tornando tudo mais envolvente. Essa autenticidade foi reconhecida com uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado—e com razão.
Mas nem tudo são flores. Embora o filme tenha um coração enorme, a direção de Kwedar não se destaca tanto quanto poderia. Ele entrega um bom trabalho, mas sem trazer grandes inovações visuais ou narrativas. E a trilha sonora, assinada por Bryce Dessner, exagera um pouco na dose emocional, tentando arrancar lágrimas do público de maneira um tanto óbvia. Isso tira um pouco da força da história, que já se sustenta muito bem sozinha.
Um elenco de peso (e alma)
Pode se dizer que Sing Sing escolheu seu elenco com maestria. A mistura de atores profissionais com ex-detentos dá uma carga de realismo absurda ao filme. Clarence "Divine Eye" Maclin, que vive Clarence, rouba a cena com uma atuação natural e intensa—não à toa, ele mesmo passou pelo programa de teatro dentro da prisão antes de se tornar ator.
Paul Raci, já conhecido por O Som do Silêncio, traz aquele carisma de mentor inspirador no papel do professor Brent Buell. Mas, sem dúvida, o nome do filme é Colman Domingo. O cara entrega mais uma atuação memorável, mostrando toda a profundidade e frustração de seu personagem com uma intensidade absurda. A cena em que Divine explode de raiva após uma grande decepção é simplesmente de arrepiar e, provavelmente, um dos momentos mais marcantes da temporada de premiações.
Vale o ingresso?
Definitivamente. Sing Sing é um filme que toca fundo, sem precisar recorrer a fórmulas manjadas. Ele lembra que a arte tem o poder de transformar vidas e que, por mais improvável que pareça, sempre existe uma chance de recomeço. Poderia ter recebido mais indicações ao Oscar? Com certeza. Mas, prêmios à parte, sua mensagem já faz dele um filme gigante.