Val Kilmer e sua transformação intensa em Jim Morrison no filme The Doors

03/04/2025

Da Redação - Ruído Urbano News

Val Kilmer, que nos deixou aos 65 anos após complicações de saúde (leia aqui), teve uma carreira marcada por papéis icônicos — entre eles, o lendário vocalista do The Doors, Jim Morrison. O longa de 1991, dirigido por Oliver Stone, não contou exatamente a história da banda como um todo, mas mergulhou fundo na figura enigmática e polêmica do "Rei Lagarto". E Kilmer não apenas atuou: ele se fundiu ao personagem.

Antes de ser escolhido para o papel, Kilmer já demonstrava um nível de dedicação incomum. Produziu por conta própria um vídeo de oito minutos onde interpretava Morrison em várias fases da vida — com direito a figurino, trejeitos e até voz. Isso mesmo: ele aprendeu cerca de 50 músicas da banda, cantou várias delas e enganou até os músicos originais. Segundo contam, quando ouviram as gravações, John Densmore e Robby Krieger mal conseguiam distinguir a voz do ator da de Morrison.

Oliver Stone, que assumiu a direção após nomes como Martin Scorsese e Brian De Palma terem sido cotados, se encantou com a performance de Kilmer. O ator já era um dos favoritos do cineasta desde seu trabalho em Willow – Na Terra da Magia.

Para entrar de cabeça no personagem, Kilmer contou com a ajuda do produtor Paul A. Rothchild, que havia trabalhado com a banda nos anos 1960. A imersão foi tão profunda que Kilmer chegou a precisar de ajuda psicológica para sair do papel após o fim das filmagens.

"Não fui seduzido por seu estilo de vida, mas tive que – e precisei, para o papel – ser tão disciplinado quanto ele era nesses escapes. Ele era muito disciplinado na bebida, tanto quanto era como artista. Quero dizer, ele procurava por inspiração a cada segundo do dia."

O longa The Doors divide opiniões até hoje. Enquanto muitos exaltam a entrega de Kilmer e o clima psicodélico da produção, outros criticam a liberdade criativa tomada por Oliver Stone, que priorizou o mito em vez da realidade histórica. Ray Manzarek, tecladista da banda, não quis participar da produção justamente por discordar da forma como Morrison seria retratado. Para ele, o filme pintou um retrato raso demais do vocalista.

Já Robby Krieger, embora tenha aprovado o filme de modo geral, também expressou certa preocupação com essa abordagem:

"Tenho medo de que esse filme seja a forma pela qual ele será lembrado, o que talvez não seja tão ruim. Quero dizer, ele podia ser muito pior do que no filme também. No entanto, ele podia ser muito melhor. Eu gostaria que todos pudessem tê-lo conhecido da forma que eu o conheci antes da bebida, sabe. Quando estávamos compondo as primeiras músicas nos primeiros dias e talvez eu escreva um livro algum dia, do qual façam um filme sobre."

Com um orçamento de US$ 32 milhões, o filme arrecadou cerca de US$ 34 milhões — ou seja, não foi um estouro de bilheteria, mas também não naufragou. No fim das contas, a produção se firmou como um marco das cinebiografias musicais, mesmo com suas liberdades narrativas.

Val Kilmer, com sua dedicação quase obsessiva, ajudou a eternizar um ícone já lendário. E, mesmo que "The Doors" tenha suas falhas históricas, é difícil negar que a alma do personagem ficou ali, cravada na tela.